11 de jan. de 2012

Um dia destes

Lembra-se de uma vez que esteve quase, quase a acontecer. Embora nem sequer se tenha apercebido na altura, mas estiveram perto. Ali juntos, só os dois, os corpos entrelaçados um no outro. A sentir o calor de ambos, a respiração, um abraço que parecia nunca mais terminar. Entre suspiros e carícias foram um do outro.

Depois acharam que não estava destinado, que havia sempre algo que aparecia pelo caminho, que era coisa que nunca iria acontecer, porque não era simples, porque era muito complicado, porque simplesmente não tinha que ser.

Mal sabiam ou sonhavam eles o que os esperava. Numa manhã dessas que anda por aí, fria, triste, combinaram encontrar-se bem cedo. Começava a ser habitual entre eles aquela pequena e rápida reunião. Algo que ambos desejavam mais que tudo, o poderem desfrutar da companhia um do outro, sem mais ninguém e esses momentos eram tão raros que só o facto de saberem que iam estar juntos sem mais ninguém, entre eles lhes causava uma enorme ansiedade.

E então ali estiveram eles, a olhar um para o outro, a sorrirem, a sentirem o nervoso miudinho a crescer dentro de cada um, os gestos denunciavam cada vez mais o que queriam. Os olhos já não se encontravam com tanta facilidade, ele concentrava-se nos lábios dela, ela não tinha coragem de o olhar nos olhos, mas sentiam-se bem. Assim juntos, de mãos dadas, porque o frio assim o obrigava e sempre era mais uma desculpa para ele poder sentir as mãos dela, pequenas comparadas com as dele, nas suas, passar levemente com os seus dedos na pele dela, na face, no cabelo, nas mãos. E teve de reuniar uma grande dose de coragem só para conseguir sentir os lábios dela com o passar de um dedo.

Concentrou-se, olhou-a nos olhos e com um enorme cuidado, começou a passar com o polegar nos lábios dela, ele queria apanhar todos os contornos e curvas, todas a suavidade dos lábios, passou o dedo uma vez, duas vezes. Não queria acreditar, como para algo tão simples mas ao mesmo tempo tão intenso tinha sido necessária tanta coragem. Ela sorria-lhe, com aquele sorriso, sincero, brilhante, os olhos dela agora não descolavam dos dele. E ali no meio de tantas pessoas conseguiam só assim ser um do outro.

O tempo voava, como aliás sempre voa quando duas pessoas estão tão bem uma com a outra e sem darem por isso já estavam atrasados, tinha que sair dali e seguir com as suas vidas, tinha de voltar àquela realidade que não queriam. Em passo apressado e sempre lado a lado lá continuaram, para aquele frio que cortava, entre abraços e toques e olhares. Ele faz questão de a acompanhar até ao último segundo possível, ele precisa de estar ao pé dela para sentir-se bem - "fazes-me bem" disse-lhe ele um dia. E fazia, ela deixava-o com o coração aos saltos, o sorriso, aquele sorriso sempre o desarmou. Ele ao pé dela sempre foi feliz, e naquela manhã sentia-se também feliz.

Entretanto enquanto aguardavam, pela boleia dela, estavam os dois juntos, ele percebe que o frio não a larga e então aproveita-se para a chegar para mais perto dela, para sentir durante mais uns minutos o seu corpo, o seu cheiro, quer sentir o toque da pele suave, aquela pele tão sensível. É a altura ideal para pagar uma dívida que tinha para com ela, então começa a beijá-la carinhosamente, na cara, na testa, na cabeça, sente-a a comprimir o seu corpo contra o dele, trocam olhares de desejo mas não pode passar disso, não pode.

Os seus corações batem cada vez mais forte, sabem que aquele sonho está prestes a terminar, ele mais resignado beija-a na face uma vez mais a pensar o quão é díficil largá-la. Numa fracção de segundos ele sente os lábios dela nos seus, uns lábios doces, delicados, carentes, suaves, saborosos. Ele não percebe muito bem o que está a acontecer, de repente todo o barulho que havia à sua volta desaparece, deseja apenas que aquele beijo não termine.

Não lhe interessa agora se era só para ser um beijo fugido ou não, ele quer sentir mais, precisa de sentir. Puxa-a ainda mais a si, e com receio começa a explorar aos poucos a boca dela, sente o contorno dos lábios dela, trinca-os com suavidade, sorve-os. Não está mais calmo, tudo aquilo parece acontecer em milésimas de segundo mas não a pode largar, é algo que ambos desejavam à muito tempo.

Finalmente, sente além dos seus lábios, uma língua maravilhosa, quente, tão quente, ambos tímidos descobrem-se finalmente e brincam com a língua um do outro. Aquele sabor, aquela ternura, aquela paixão, aquela entrega...tudo o que ele tinha imaginado estava ali. Duas bocas virgens um do outro finalmente a desfrutarem-se mutuamente, num beijo maravilhoso, apaixonado. Em que o mundo foi esquecido, em que tudo e todos passaram a ser o resto e nada mais importou durante o tempo em que foram um.

Numa despedida obrigatória e cruel, ele ainda lhe mordisca o lábio inferior para guardar ao máximo aquele sabor, aquela textura de uns lábios que o deixam de cabeça perdida...ela desaparece, não se senta no sítio onde costuma ficar, tenta encontrá-la sem sucesso. Quando a perde de vista, tudo volta, o frio, o trânsito, as pessoas, as árvores, o barulho. Não conseguia andar bem, sentiu o corpo todo ele a tremer, a respiração tardava a voltar à normalidade, no seu pensamento a na sua boca parecia que ainda a sentia ali bem junto. Queria mais, muito mais. Queria perder-se nela e com ela durante horas a fio.

Soube a pouco.

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