19 de set. de 2012

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Aquele rapaz achava que já tinha aprendido tudo o que havia para aprender. Chegou a uma altura na sua vida em que achava que pouco ou nada havia a acrescentar à sua imensa sabedoria. Tomava isso como um facto adquirido. Era claro como água, ao contrário do que se poderia esperar ele nem adoptava uma postura de pessoa convencida, nem se armava em superior. Não tão pouco se vangloriava do que ele achava que sabia, para ele era um dado adquirido. Sabia de tudo e de quase todos e achava ele que isso lhe bastava e que teria de viver com essa sabedoria até ao fim dos seus dias. Achava que não se conseguiria surpreender com coisas novas, porque muitas delas já as tinha vivido, as pessoas para ele não representavam nada de novo nem de diferente, eram apenas pessoas que apareciam e desapareciam ao longo dos tempos. Tudo era aborrecido, nada do que lhe aparecia pela frente era visto como um desafio, tudo era enfadonho, amorfo, nada que o fizesse despertar daquele espírito de eu já sei tudo e pouco haverá para saber. Os dias passavam, iguais, sempre iguais. Fizesse chuva ou sol, com ou sem vento, os dias para ele eram sempre uma constante, uma repetição de uma nota musical sem fim. Sempre o mesmo som, o mesmo ressoar, sem nunca haver uma alteração no timbre. Para ele o tempo não existia, se o tempo nos trás conhecimento, então o tempo para ele não passava de um acessório dispensável, sem uso prático que lhe pudesse trazer algo de novo à vida dele. No alto da sua infindável sabedoria e inocência também, obviamente, o rapaz que sabia tudo, não sabia que mais cedo ou mais tarde as coisas mudam, porque é assim que funciona esta coisa estranha que nos rodeia e/ou suporta, é uma condição obrigatória que nos afeta a todos e todos sabemos disso menos o rapaz.

2 comentários:

Mam'Zelle Moustache disse...

"As pessoas para ele não representavam nada de novo nem de diferente" - é a única parte, neste teu texto, que não consigo entender. Ou então, este rapaz teve muito pouca sorte com as pessoas que lhe apareceram no caminho. É que, para além da sabedoria, existem os afectos. E nunca sabemos tudo sobre isso. Aliás, não sabemos nada, por mais experiência que se tenha. Porque cada pessoa que nos encanta (seja lá por que razão for) é diferente da outra e a nossa relação com ela também o será. Diferente e, por isso mesmo, enriquecedora...

A. disse...

Teve sorte nalgumas, azar com outras, mas no fundo o problema dele é que as pessoas boas que ele conheceu/conhecia não lhes dava o devido valor. Pode ser que ele vá aprendendo...

Sim, cada pessoa é única :)