"Sou a favor dos beijos com língua. Sou contra os chochos. Pronto,
podem prender-me. Onde é a esquadra mais próxima? Estão aqui as minhas
duas mãos, ficarei na cela que me propuserem. Mas antes disso, deixem
que me explique, fazendo de todos os que agora estão a ler isto – e
gosto de pensar que são muitos – uma espécie de jurados à americana,
como nas séries, como na televisão. De modo que é isto, não gosto de
chochos. Para começar, porque nunca sei como é que se escreve (xoxos?!).
Depois, porque só a palavra em si é chochinha. Quando os chochos chegam
a uma relação, algo vai mal. E tenho reparado que são muitos os casais a
despedirem-se com um, quando se separam para o emprego. É o clássico, o
carro pára, um deles deixa o outro no local do emprego, diz-se até logo
e cá está, como diria Gabriel Alves “ohhhhhh, um xooooxinhhho caro
telespectador, aí está uma perfeita leitura de jogo, e aqui o temos, um
chocho de grande amplitude técnica! Uma maravilha, um hino aos que
beijam por esse Portugal fora!”. Mentira. Gabriel Alves nunca diria uma
coisa destas pois, tal como eu, sabe que um chocho nunca pode ter
qualquer espécie de amplitude técnica. Quando muito, o chocho é o
primeiro passo para o beijo na testa. E isso dava eu à minha avó, que
Deus a tenha. Por isso sou tão contra e só admito o chocho em situações
de iminente exposição pública. O caso do carro, não é suficiente
exposição. Um homem, ao despedir-se da sua mulher, deve – no mínimo –
dar um pouco da sua língua. E ela também. O amor não pode ser celebrado
com um chocho. O amor tem que ter língua. E esta deve ser usada, que é
para isso que ela serve.
O problema do amor é ter deixado a língua cá dentro. De a ter
retraído com o passar do tempo. De a ter cativa na sua boca. O amor,
esse que nos encosta à parede e nos apressa os compassos
cardiovasculares e nos tira a roupa e nos desmancha a cama e nos faz não
atender o telefone – porque é que nos ligam sempre a estas horas? –,
esse amor de que agora falo, que nos faz sentir vontade de chegarmos a
casa mais cedo e mandarmos uma SMS a dizer que estamos inquietos no
trabalho só de pensar que daqui a pouco estaremos juntos – e vamos estar
juntos – e telefonar só para ouvir a voz do outro, e mandar uma tosta
mista para o emprego dela com um papel a dizer “Toma, é para ti!”, esse
amor precisa de língua! E, por isso mesmo, nunca se poderá celebrar com
um chochinho!
Fernando Alvim"
2 comentários:
:)
Gosto disto. Mas não sei se é possivel os beijos um dia não virarem xoxos...
Acho que só viram, se deixarmos.
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