Ao longo da vida vamos somando experiências, no trabalho, na amizade, nos amores. Acumula-se tudo. Há coisas que conseguimos largar, outras que nos vão acompanhar para sempre, outras que fazemos questão de ir relembrando...porque somos assim, conscientes de tudo o que nos rodeia, de tudo o que nos construiu ao longo dos anos.
Se das primeiras vezes era tudo muito bonito e nos entregávamos de corpo e alma a uma relação, vamos percebendo que não pode ser sempre assim, porque estamos fartos de bater com a cara no chão, porque as feridas vão-se amontoando e muitas delas não param de sangrar. Temos de ser o nosso próprio médico, e vamos criando receitas que achamos que nos vão permitir sarar de feridas passadas e das que estão para vir. Não nos podemos permitir a que sejam criadas mais feridas, mais expectativas goradas, mais desapontamentos, mais dor. Queremos tornar-nos imunes, não queremos mais sofrimento.
Com base no que vamos vivendo, vamos tomando decisões que pensamos ser melhores, que nos vão deixar mais preparados para o que há-de vir. Somos animais de hábitos, mas também conseguimos alterá-los e se isso se reflectir numa experiência melhor para nós (muito subjectivo claro) então lá vamos nós tomando cada vez mais decisões baseadas no passado, do que propriamente relacionadas com a situação que se nos apresenta. Ou melhor, tomamos uma decisão no presente baseado em algo passado. E isso aplica-se a muita coisa, nas relações por exemplo.
Venha quem vier (repetimos a nós próprios), para nos relembrar das lições anteriores, dos medos, dos suores frios, das noites com saudade, dos desejos calcados. Não interessa se esta pessoa que temos agora é a melhor que temos. Porque das outras vezes em que não tínhamos muralhas, nem defesas, nem nada, das outras vezes em que nos deixámos levar, em que levantámos os pés do chão, em que éramos levados em conjunto com a outra pessoa saímos sempre mal. Então não interessa nada do que acontece agora, não interessa a pessoa, as vontades, os sonhos, os desejos. Porque se das outras vezes correu mal, porque há-de correr melhor desta?
Fica se quiseres, vai-te se quiseres é o que dizemos. Porque o que éramos, o que fomos, isso não vais ter nunca. O que tens agora é isto.
Podemos até dizer que não, que agora somos melhores pessoas, que estamos mais preparados, que isso por si só é o suficiente para que não sejam cometidos erros passados. Podemos dizer que se escolhemos esta pessoa é porque ela é de facto especial e atribuímos isso ao nosso novo apurado sentido de escolha porque agora só escolhemos o melhor, porque se a outra pessoa não fosse a melhor então não teria sido escolhida para estar ali ao nosso lado. Então se escolhemos essa pessoa, se queremos ficar com ela, se é a melhor, então porque julgamos e limitamos a relação com essa pessoa baseando-a em casos de insucesso anteriores?
Porque é tudo treta. Porque temos medo de voltar a sentir como sentíamos. Porque o egoísmo vai ganhar sempre. Porque não queremos passar pelo mesmo. Porque agora as coisas são feitas da nossa forma.
É fodido quando somos o(a) último(a).
4 comentários:
Há que dar novas oportunidades, não aos outros, mas a nós mesmos.
O último, disseste.
E disseste tudo.
Às vezes é a única solução.
Tudo dito.
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