23 de fev. de 2012

Os Homens também choram

E então ele chorou, naquele dia, naquela noite. Nada o fazia prever, aliás como várias coisas na nossa vida que simplesmente acontecem e muitas das vezes não estamos preparados para o que aí vem. Então assim, sem mais nem menos chorou.
Sentia as lágrimas a escorrerem-lhe pela face, cada uma seguia o seu caminho livre, até caírem no chão. Ele estava ali de pé, frente ao vidro baço, apenas via o reflexo de alguém que sofria, de alguém que queria arrancar aquela dor do peito cá para fora e assim poder destrui-la.
Sabia que isso não ia acontecer, então rendeu-se, perdeu o pouco controle que tinha sobre ele e chorou. E enquanto o sabor salgado lhe percorria os lábios ele tentou lembrar-se da última vez que tinha sentido aquele sabor na boca, os olhos a arderem de dor e raiva por não querer verter uma única lágrima, o queixo e lábios trémulos tentando evitar ao máximo soltar sons de angústia.
Havia muito tempo da última vez que se tinha sentido assim, tão desprotegido, tão só, tão desamparado, tão perdido. Não havia mais nada à sua volta, o único som que se fazia sentir era o choramingar triste dele, as lágrimas essas não paravam, uma a seguir à outra. O seu rosto se alguém o visse agora estaria certamente irreconhecível num misto de tristeza e de raiva.
E enquanto chorava, sentia cada vez mais as forças a faltarem-lhe nas pernas, tremiam de forma constante e desordenada, os braços também já não respondiam. E sem mais forças deixou-se cair no chão, instintivamente encolheu-se já no chão, agarrou-se a ele próprio e perdeu a vergonha do choro. E aí, não conteve mais nada do que tinha dentro dele, soltou-se e, chorou sem parar, sem vergonha, sem preconceitos.
Da sua garganta saíam ruídos cortantes de dor e desespero, não conseguia articular uma palavra que fosse, sentia-se um animal abatido a morrer lentamente. E ali ficou a chorar, enquanto os segundos se transformavam em minutos e os minutos em horas...

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